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quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Ana Lívia dos Santos, 14 anos.


O garoto que achava que lia.
O que seria ler se não uma combinação de palavras e letras? Para aquele garoto, nada mais era que entender as frases em uma latinha de refrigerante, no verso do salgadinho ou, duramente, na receita do médico. Ler nada mais era que algo simples, um detalhe do cotidiano que se passava irrelevante. Dias e dias ele ouvia: "Vocês precisam ler, é uma das melhores coisas que podem fazer para alavancar seu aprendizado. Então, o que me dizem? Ler ou não ler?” O garoto acompanha o coral com seus amigos, um "Ler" definitivo, cantado, cada um com seu livro em mãos, menos o garoto. Quem tivesse coragem de lhe oferecer um daqueles rapidamente iria receber seu comentário esperto. "Mas eu já leio, leio a cada segundo, muito mais que leria nesse livro fajuto." Seus professores cansavam de dizer todas às vezes para que ele pegasse um livro. Insistir não resolvia nada, pois ele só ficava emburrado, cruzava os braços e bufava desapontado, recusando virar uma única página que fosse do livro. A mente daquele garoto ficava confusa se diziam a ele para ler. Por que ficavam bravos com ele por não pegar livros? Ele já lia o suficiente, mesmo que fosse apenas na tela do videogame. Não via nada que deixasse os livros especiais, pois para ele nada mais eram que um conjunto maior de lições de vida. Pois então, em um dia dourado, o garoto olha para o próprio monitor apagado, consequência das horas que ficariam sem luz pelo problema na rede de energia. Ele aperta o teclado, move o mouse, se levanta e chuta a bola para cima da cama. Gira, pula no colchão e sente algo embaixo de suas mãos. Rápido, revirando as cobertas, encontra um livro de capa dura e amarela. Palavras azuis, desenhos circulares, detalhes meticulosos e um sorriso feroz. É um livro ao qual ele pouco interesse dava, mas com o passar das horas nada mais há que o nascimento de uma curiosidade. Revirando as páginas em busca de desenhos, ele se chateia quando não encontra nenhum, mas volta à primeira página e começa a ler. Aquela acaba sendo sua maior aventura, envolta de prazer. Cada página é uma felicidade maior, uma oportunidade para uma nova jornada entre frases e palavras. A noite cai rápida, a energia volta logo, mas nada, nem mesmo o jantar, tira a atenção do garoto daquele livro, nem mesmo o pesar do seu sono. No outro dia, quase caindo da cadeira pela falta de energia, o garoto continua lendo seu livro e está longe de prestar atenção na aula. Porém, uma frase chama a sua atenção, uma pergunta que quer ter o prazer de responder e, com um sorriso encantado pelo mundo de magia encontrado, dispara: “Ler ou não ler?”

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